Quando eu tinha dez anos…

Adorava a natureza. Adorava ao ponto de acordar cedo todas as manhãs, fosse para apanhar folhas que mais tarde acabam secas numa das gavetas do meu quarto ou pegar em bocadinhos de gelo que se formavam no inverno junto à porta daquela casa abandonada na minha rua. 

Adorava o som dos pássaros e o do vento ao tocar nas folhas prestes a cair das árvores. Adorava correr pelos campos verdes que para mim não tinham fim. E todas as tardes no fim as aulas, pegava na minha bicicleta azul e amarela, oferecida num Natal anterior, e andava sem rumo nem companhia. Andava quilómetros e quilómetros, sem medo do que poderia encontrar, sem medo de o fazer sozinha, parando nos sítios que mais me cativassem. 

Todos os dias batia à porta de casa da tua avó e perguntava se querias vir brincar, mesmo que muitas vezes não obtivesse resposta. Eu não desistia…nem me sentia sozinha. Afinal tinha todos estes campos e estradas por onde hoje apenas passo de carro. Tinha todos os lugares possíveis à minha espera.