Encosto o nariz ao vidro embaciado da janela do autocarro e sinto-o congelar a um ritmo demasiado acelerado. Faço-o para sentir o frio, enquanto observo bem de perto o cair dos pingos da chuva e imagino os gritos do vento numa rua onde eu e tu podíamos estar. Numa rua movimentada, cheia de pessoas apressadas e mal dispostas, que tentam superar o mau tempo e cumprir obrigações. Pessoas a quem os chapéus-de-chuva se estragam com o vento ou a quem se inundam os sapatos numa enorme poça de água que não viram pisar. Pessoas que se refugiam numa rotina cansativa e chata, que ignoram e isolam sentimentos. Pessoas como eu não quero ser. Pessoas com as quais eu sei que não nos confundiríamos.
Podíamos também estar numa rua sem movimento, sem pessoas. Longe de rotinas e obrigações que odiamos ter de cumprir. Na rua onde eu soubesse que te ia encontrar. Numa rua de final de filme, onde pudesse correr à chuva, sem chapéus-de-chuva ou impermeáveis e onde pudéssemos, juntos, pisar a mesma poça de água.
Entretanto, já estou perto de casa.
-Espere! Eu saio aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário